quinta-feira, 17 de junho de 2010

A metrópole e o povoado.




- Eram mais ou menos 8:00 da noite de uma segunda-feira, quando o comandante avisou pelo rádio que em alguns minutos o avião vindo do sul pousaria na grande metrópole. Olhando pela janela Simão via um infinito de pequenas luzinhas, que a medida que se aproximava transformava-se num mar de concreto, prédios, ruas e avenidas.


- Sujeito tranqüilo, saído de uma pequena e pacata cidade de interior, onde o engarrafamento da hora do "rush" não passava de uma fila de 5 ou 6 carros no semáforo da rua principal, da praça central da cidadezinha e onde os criminosos eram conhecidos pelos nomes e todos sabiam onde eles viviam, os cachorros eram que perambulavam pelas ruas tinham apelidos e mendigos não haviam, Simão ficou "boquiaberto", aponto de esquecer o medo de aviões, sobretudo em se tratando de um pouso no aeroporto de "Cegonhas", que ficava estreitamente encravado no meio daquela selva de pedras e que já havia vitimado muitos pilotos experientes.


- Quando deu por si já estava a caminho do hotel em meio a gente de todas as partes do mundo e de todas as classes sociais. Com um par de perguntas ficou sabendo de um bom hotel a alguns metros do aeroporto onde poderia hospedar-se de maneira cômoda e relativamente barata. Como não havia feito reserva os minutos na fila da recepção do hotel, onde havia uma televisão sintonizada no Jornal nacional onde Willian Bonner falava da violência daquele mesmo centro, passavam como horas, frente a indefinição da existência ou não de vaga, significava mais que simples acomodação, aquela altura significava segurança.


- A impressão que tinha era de que o lugar era um caminho sem volta para a "vitimação" em algum assalto, seqüestro, quem sabe algum alagamento, enfim, as tragédias que via diariamente na televisão (Idéia que, justiça seja feita, acabou modificada). Por sorte, conseguiu um quarto.

- Acomodado e tranqüilizado sentou-se à janela de seu quarto, com algumas cervejas a contemplar a cidade. Ficou ali tentando entender o que sentia: Curiosidade, temor, preguiça, excitação... Acabou adormecendo, ouvindo a conversa em sotaque diferente de um barzinho de esquina logo abaixo de sua janela.


- No outro dia acordou com o ruído de um avião que passou a poucos metros de sua janela para pousar no aeroporto em frente e que serviu como uma pequena demonstração da do ritmo frenético daquela cidade.


- Aprontou-se para sair, tomou seu café da manhã e sentou-se a frente do hotel, esperando por uma amiga "local" que o apanharia para o cumprimento de seus compromissos da selva de pedra.


- Apenas alguns quarteirões foram o suficiente para ter outra demonstração dos problemas de grandes cidades: Uma avenida enorme totalmente entupida de pessoas, ônibus, carros, todos em disputa por um espaço, por um metro a mais rumo e seus destinos. O trânsito era em ritmo tartaruga, Muita fumaça, muito barulho, muita gente, enfim, "stress"...


- Fazia um pouco de calor e Simão baixou o vidro da janela do carro. Logo notou uma inquietação na amiga, que logo o advertiu: "- É melhor "cê" fecha o vidro ou nós poderemos "estar sendo" assaltados". Outra privação de liberdade. Já não bastasse a dificuldade de locomoção que praticamente lhe limitava o direito de "ir e vir" e a insegurança que lhe mantinha gradeado e "ligado".


- Depois de quase uma hora para percorrer uma distância de 10 Km chegaram a um parte mais tranquila da cidade onde puderam comer em um bom restaurante e caminhar com certa tranquilidade. Quando decidiram sair dali, outra limitação: Foi informado pela amiga de que, devido ao "rodízio", ela não poderia usar seu automóvel antes da 20:00 (eram por volta das 17:00). Sem muita escolha sentaram-se em um "pub" no bairro de "Garden´s" e tomaram algumas cervejas enquanto o tempo passava.


- Para um dia em que se tem tempo para isso, parece perfeito, mas quando essas limitações de liberdade, e outras várias como a insegurança, a demora, o descaso, até mesmo a solidão, tornam a vida quase inviável para "seres" que vem da liberdade, das cadeiras na calçada até tarde nas noites de verão, da caminhada em pleno centro (caminhando pelo lado da praça, na frente da igreja e da prefeitura) bem encasacado numa noite de inverno daquelas frias como só lá no povoado, um silêncio, uma tranquilidade, só o vigia da prefeitura tomando um mate atrás de um poncho.


- Muito melhor andar no meu carro a qualquer hora, a 30 km/h sem cinto e sem habilitação, se quiser, ir até o "passo" tomar uma cerveja e comer um peixe frito enquanto faz comentários como: - Mas "tá" a alto o rio, não tchê?


- Ou quando se deita para dormir, ao invés de aviões, ser acordado no meio da madrugada por uma sinfonia melancólica dos cachorros da vizinhança, e quando falo em vizinhança falo de um raio de 10 ou 15 quarteirões que se pode ouvir no silêncio da noite. Ou ainda adormecer ao som longínquo e ritmado de um grilo.


- Enfim, no povoado se vive a liberdade de maneira mais intensa, se desfruta mais da liberdade, as relações são mais estreitas, se conhece mais as pessoas. Os dias passam mais lentos, se morre menos do coração ou sofre-se menos de "stress".


- Para isso, no entanto, tem-se que sopesar os benefícios de se viver numa cidade grande, opções de cultura, de lazer, de oportunidades profissionais. Da avaliação da importância destes valores contrapostos, que só pode ser feita dentro do íntimo de cada um, se poderá saber qual a melhor opção. Para Simão, tenham certeza, nada chega perto da tranquilidade, do aconchego e da identificação que sente em seu povoado.


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