sábado, 23 de abril de 2011

Veisalgia


A luz tentava furiosamente invadir o quarto; com astúcia a velha cortina de feltro impedia que o quarto iluminasse. Mas logo um feixe de luz oriundo de um buraco milimétrico; com precisão cirúrgica acertara em cheio a retina do olho direito de Marcos. Um murmuro ouviu-se no recinto, algo que se fosse traduzido de sua língua primitiva,matinal e etílica seria certamente indicio de uma diabólica...ressaca.


Os pés em couro tocaram o chão e dele receberam uma fria recepção(mais grunhidos são ouvidos). O trajeto até o banheiro era penoso, lembranças da noite anterior alvejaram o cérebro de Marcos e como flechas venenosas contaminaram seu consciente. Tombos, vômito ,álcool , tudo vindo de encontro com o presente, cenas aterradoras e vergonhosas. A torneira se abriu, água no rosto, pasta na escova e aquilo que um dia foi comida repousava em uma marola contida pela louça marfim, mas jatos ferozes de água despacharam aquela figura castanha para longínquas tubulações . Parecia que tudo estava começando a acontecer, a velocidade em que marcos abriu a geladeira só não foi maior que o vácuo que saiu desta. O estomago humano precisa de comida ainda mais um estomago que foi solicitado tantas vezes para verter tão ferozmente as refeições passadas.


O que fazer agora? Sem dignidade e memória um homem pode viver, mas sem uma refeição decente pra curar a ressaca não dá! Uma procura incessante havia começado naquele apartamento, calças e bermudas voaram, todas com seus bolsos devassados, mas nada sequer um níquel apareceu. As opções estavam escassas, sem dinheiro, sem comida e quase sem memória ele sabia como agir. Nesse estado ele fez aquilo que qualquer jovem universitário pseudo intelectual circundado de ideais faria... Ligou para sua mãe.

- Alô, mãe?

- Oi meu filho, que voz é essa? Gripe?

- Não acabei de acordar, ein tu depositates aquela grana que te pedi... Pra aquele seminário e tal?

- A eu vou bem meu filho, também sinto saudades...

- Ah desculpe, mãe... Tudo bem por aí o pai ta bem ? E a Maria?

- Hehe desculpado... Tudo bem sim teu pai ta lá fora, agora deu pra insistir que tem uma fuinha destruindo o quintal, ta lá de bunda pra cima espalhando veneno pra tudo que é lado... a Maria tá experimentando o vestido pro debut dela, tu vem né?

- Vou sim , mas ein sobre aquele dinheiro...

- Ah sim, depositei pra ti hj pela manha.

- Obrigado mãe, muito obrigado te amo bjo depois te ligo...

- De nada, tbm te amo...alo, alo, não deveria ter dito tão cedo que tinha depositado.


Nosso intrépido e prosaico guerreiro já tinha as informações que precisava então ele se vestiu com agilidade chinesa e se pôs em direção ao banco onde, onde sua glória de papel o aguardava. O sol foi contido pelas lentes duvidosas dos óculos “Ray bamm”,( Sim dois “m” a origem do óculos também é duvidosa) os passos eram rápidos e decididos, o Banco estava perto , só mais algumas quadras talvez duas... os pensamentos eram os melhores, não tão melhores quanto a parede de ar frio que nocauteou marcos no momento em que ele abriu a porta da agencia bancária sua vontade era de ter ficado ali estático por uns mil anos, apenas apreciando a função daquela magnífica invenção do homem, mas a fome é maior que qualquer devaneio e numa fração de segundos o cartão foi introduzido na fenda da maquina, mas a leitura magnética não ocorreu então repetidamente o ato de tirar e por seguiu-se até que finalmente o dinheiro saiu, faltou apenas a maquina "suspirar e ascender um cigarro".


Com o dinheiro em mãos, e roncos no estomago ele não pensou meia vez. Correu direto para a primeira birosca que achou, perguntou o que tinha para comer, a resposta foi a de que como já eram 15:00, apenas lanches estavam disponíveis, um xis completo foi ordenado acompanhado da coca-cola mais gelada do condado e ali ele ficou, e esperou com uma paciência sacerdotal, sua merecida refeição.


Reza a lenda que no exato momento em que chegou o lanche e o refri, estes foram devorados com tanta gana, que até hoje a sombra do prato,do copo e de marcos permanecem lá, suas siluetas eternizadas pela velocidade impiedosa dos dias.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Erro, a Reflexão e a Compreensão

O sonho é meu e o tempo tanto faz. Não se morre de ¨tempo perdido¨.

Viver é aventurar-se nas trilhas cruas. O passo firme nas pedras soltas.

Uma linha tênue separa os que sempre comeram em talheres de prata, daqueles que trilham sem norte, andam em círculos e por vezes paralizam catatônicos.

Aviso aos que comem no bravo Duralex e ficam mais sábios quando fustigados, em vez de envenenarem-se na própria peçonha. Os senhores são as pessoas mais interessantes que se pode conhecer.

Todos os caminhos fazem algum sentido, o fatalismo cega diante das portas que se abrem. Há desorientados, não fracassados.

O Âmago Abandonado, a Consciência, um Mago

Acordei num torpor sedado e por um imenso pântano circundado. Noite de inverno sem lua, talvez a mais escura. Vi um galho ao vento desenhar um vulto na água parada, mesmo indefinido, enxergava um sorriso q logo se desfez...

No primeiro passo na escuridão, foi meio corpo enterrado em um bolsão de lama, certamente me enfiei onde nem ao menos havia calcário para fazer o chão. Escutei um velho desdenhando: ¨Não reclamas se não enxergas o chão, aumente teus braços com o que tens à mão e aprenda que às vezes é confusa a visão¨.

Arranquei um galho alcançável, fiz uma base e enfim saí do barro.

Cansado, sujo, faminto e picado por mil mosquitos zumbindo à loucura, olhei pro céu como não costumava olhar. Pedi por água, alimento, ou algo para anestesiar.

Montei um estrado entre 3 galhos próximos, cobri com larga folhagem nativa e escureceu.

Gritei alto e silenciei. No silêncio escutei o velho desgraçado: ¨Te fudeste por agora, e se fizeres fogo, aumentarás muito tuas chances de fazeres parte do amanhã e aprenderes que só teu pensamento limita, tuas possibilidades sempre foram infinitas¨.

Eu tinha um isqueiro molhado e uma faca de churrasco, havia palha entre galhos entrevados e uma casca de árvore seca.

Amanheceu 6h. 4 horas lutando por fogo e a fumaça surgiu na palha . Já não valia nada, mas eu gargalhava feliz.. Meu orgulho era real, por segundos sentí-me imortal.

O velho apontou e disse: ¨Use teu talento mais bonito, dentro deste desequílibrio compulsivo. Mesmo que faças merda e farás, o mundo desabará tantas vezes quantas permití-lo e irá levantar-se cada vez mais sólido, desde que não construas beirando o precipício. Sejas simples consigo, usa o que sabes e aprenderes para auxiliar os amigos e os demais. Faça das merdas o cimento, a cola da torre erguida nas virtudes frustradas e vitórias desprezadas. E por 10s simplesmente não sejas crítico, abra os braços, sorrias e sejas lindo. Entendas tua individualidade, e apartir daí conversaremos.¨

Mesmo muito tosco, o velho disse o que eu precisava. Espero notícias desse velho amigo, que nem nome revelou.

(Editem os textos, aqui deu pau na hora de formatá-los) Bruno Caldas.